UM VELHO NO RESTELO
Irado, e meio de recusa, olha as gaivotas.
É o Homem do Leme?
Não o creio.
Dá tudo por tabaco. Um cigarrinho
apazigua o velho. A sua queixa
(histórica?) é, afinal, conforme.
Vem para terra o velho. Perde uma alpargata
e apostrofa o mar, que não tem culpa
do alcatrão fervente.
O velho morde um pão
e deixa nele um dente.
O velho bebe um copo.
Não deixa nele a sede.
O Mar é o ladrão
De pais a filhos o mar é o ladrão.
O sal das sobrancelhas alveja em seu olhar.
Está por tudo o velho, menos pelo mar.
Alexandre O'Neill in "As Horas já de Números Vestidas", 1981