segunda-feira, janeiro 17, 2005

PASTEL DE NATA

Nestes dias em que estive fora tentei imaginar o que nós portugueses tínhamos e os outros não. A primeira coisa que me ocorreu foi o cozido à portuguesa. Depois lembrei-me que os de Madrid têm um cozido em todo igual. Depois pensei nos maus hábitos de chegar atrasado, cuspir para o chão ou mesmo a tendência para o nosso saudosismo depressivo. Mas há outros que nos igualam ou quase. Porque igualar-igualar é difícil.
Ah! Ninguém possivelmente terá um Santana Lopes. Um político mal preparado, armado em vítima, com a mania da perseguição e que quer ser tudo num ápice. Digamos assim, no tempo de um telejornal das oito. Que em pouco tempo vai de figurante de um programa de televisão do tipo cadeira do poder a primeiro-ministro, passando por candidato a Presidente da República. Que pensa mais em si e nos seus interesses do que no país e nas suas carências estruturais profundas. Que protege mais os amigos incompetentes do que um cabo eleitoral qualquer do interior da Bahía. Pensado melhor, no Brasil haverá concerteza uns Pedrões semelhantes...
Ah! Ninguém possivelmente terá um José Sócrates. Um político tipo caldo Knorr, instantâneo e sensaborão ou no máximo com sabor a plástico. Rodeado do pior que há no PS passado e futuro, o José bem pode exibir o seu estilo Armani que nunca passará de uma criaturazinha a fazer pose. Tão só porque não existe e não tem peso específico. É uma invenção com prazo de validade, depois de engolido e cuspido pela máquina partidária. Quem sabe talvez vá para Bruxelas, em fuga ou a toque de caixa. Mas, pensando melhor, haverá por aí um País qualquer, numa esquina do mundo, com gente semelhante...
Finalmente descobri. Ninguém, que eu saiba, tem o pastel de nata. Há pelo mundo fora muitos tipos de pastéis, mas como o de nata nunca vi. A cor, o sabor, o cheiro e o folhado estaladiço. Ora aqui está a nossa originalidade. Nós somos donos do pastel de nata. Ou melhor, nós somos o próprio pastel de nata. No deixar andar, no mais ou menos, na dificuldade em dizer não, somos a nata. Na inveja, na mediocridade, na maledicência somos a nata da nata. Na falta de capacidade de olhar de frente o futuro e de correr risco nós não passamos de pastéis. E acabamos sempre por ser comidos.
Assim, ganhe quem ganhar as eleições legislativas, teremos invariavelmente o que merecemos. Uma originalidade a primeiro-ministro. Um pastel de nada, perdão, de nata.