Sem qualquer pedido de consentimento ao Almirante, concerteza desnecessário neste espaço onde cada um dos tripulantes é dono da sua própria consciência, socorro-me de FNV (Filipe Nunes Vicente) do Mar Salgado, também sem pedido de autorização mas que concerteza me desculpará o abuso, para fazer aqui, hoje e agora, a minha declaração de voto de apoio a Manuel Alegre à Presidência da República.
- DECLARAÇÃO DE VOTO: Disse aqui há tempos que não escreveria sobre as eleições presidenciais. Tenho cumprido a promessa, pois que me tenho limitado a assinalar aspectos comunicacionais, num tom mais ou menos irónico. Reparei contudo que de cada vez que critico um ou outro aspecto da candidatura de Soares, atraio nas caixas de comentários atitudes ou sobranceiras ou agressivas ou intimidatórias. Pois bem, assim me convenceram a votar dia 23 de Janeiro: Manuel Alegre. Obrigado pelo empurrão. "FNV in Mar Salgado".
- MANUEL ALEGRE À PRESIDÊNCIA (I): Vamos então a isto, começando pelas dificuldades. Alegre, mais do que não ter uma máquina partidária, não tem o peso simbólico de Soares e de Cavaco; dito de forma crua, fora de círculos restritos, é pouco conhecido. Isto vai reflectir-se nas acções de rua, não tão irrelevantes como se julga: elas vinculam o espectador a uma ilusão de pertença, a uma categoria identitária. Como caçador, Alegre sabe que se não tem um braco para levar às perdizes, mais vale ir caçar coelhos. Com podengos. Assim talvez seja boa ideia os serviços de candidatura pensarem em poucas mas boas reuniões populares, em espaços abertos. Uma outra consequência negativa do anonimato é a tendência para gerar indiferença no eleitorado. Isto pode ser compensado por uma estratégia comunicacional menos defensiva do que a que tem sido seguida. Por exemplo, não ter medo ( até pelo efeito histérico que gera na candidatura de Soares) de insistir na matriz cultural-nacional. Abordaremos isto no próximo post da série. "FNV in Mar Salgado".
- MANUEL ALEGRE À PRESIDÊNCIA (II): Manuel Alegre não é doutor nem tem o mestrado, nem sequer, suspeito, uma pós-graduação. É como a maioria dos portugueses, um curioso. E que diz ele ( retomando o último ponto do post anterior da série)? Entre outras coisas criminosas, fala de Pátria e do orgulho nacional, fala da identidade portuguesa. Como era de esperar, intelectuais mais ou menos provincianos agitaram-se: populismo, disseram uns, bolor marialva, disseram outros. Por falta de informação, de viagens e de estudo ( não necessariamente por esta ordem), estes conceitos são associados a uma visão do mundo passadista e fechada, quando não à "direita tradicional" ou à xenofobia. Ou seja, vibrantes universitários ainda carregam a ideia de Pátria do Dr. Salazar. A verdade é que uma das áreas de estudo e de intervenção que mais cresceu nos departamentos universitários americanos e europeus nos últimos quarenta anos, prende-se com isto. Os estudos pós-coloniais e os area studies, berços de críticas violentas ao passado colonial da Europa e ao imperialismo americano, radicam precisamente na (re)construção das identidades nacionais das nações outrora desqualificadas; no seu orgulho, na sua História, na sua identidade cultural. Que um Presidente que não pode governar nem legislar ( para isso existem outros) se proponha a fazer o papel de Leopoldo (da Bélgica ou do Senegal), não é demeritório. Ainda para mais sendo esse Presidente um escritor. O provinciano, dizia Ortega y Gasset, é aquele que viva onde viver ( e pode ser Londres, Paris ou Leiria), pensa que vive no centro do mundo. O namoro a uma reeducação das idiosincracias nacionais só pode ajudar a combater essa ideia provinciana: somos todos centros, como já fomos todos berlinenses. Esta diversidade só assusta quem vive o sonho de um mundo uniformizado e obediente às suas ilustradas concepções sobre como todos devemos viver. "FNV in Mar Salgado".