Ao ataque!
Hoje de manhã, na papelaria onde compro os jornais, estava à minha frente um cliente indignado a barafustar com um outro cliente ao lado. Queria saber porque é que o outro ia comprar a Scientific American e porque é que estava vestido de azul. O outro lá lhe ia respondendo, cordatamente, que gostava de ler a revista – que tinha um artigo muito interessante sobre a neurobiologia do Eu, matéria que explicou brevemente - e que apreciava supimpamente o azul. “A neurobiologia do Eu não serve para nada! A quem é que o senhor quer enganar?” Enquanto isto, a fila de clientes ia aumentando. “Ele lê a Scientific American!", dizia o cliente irado para o dono da papelaria. “Quer saber porquê? Porque ele – e sublinhava ele - é inculto! Aliás tenho amigos que já me disseram isso dele. Não digo quem para não parecer deselegante.” A coisa continuou, com o cliente agastado interrompendo o outro que pedia ao homem da papelaria um caderno: “Explique lá o que é que é isso de um caderno?” O homem da papelaria estava perplexo, mas arranjou maneira de me atender a mim e aos outros clientes. O que, de resto, foi facilitado pelo homem irritado, que confessou que naquele momento não queria comprar nada: talvez amanhã, se o outro também lá estivesse. Mais: exigiu que o outro amanhã lá estivesse. À saída, toda a gente estava de acordo: o homem da Scientific American estava à defesa, o outro ao ataque. Confesso que não percebi bem: o homem irritado não disse uma única palavra sobre a neurobiologia do Eu, excepto que não servia para nada. Defesa? Ataque?
(in pulo-do-lobo.blogspot.com)
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